sábado, 26 de junho de 2010

Conto: Desapego

Coisa difícil o desapego. A todo o momento temos de nos desapegar a algo. Desde a barriga da mãe. E não foi diferente com aquele objeto. Um brinquedo, um trenzinho.

De certa forma, um tanto quanto insignificante, mas que lhe despertara paixões. Sabe aquele brinquedo que você quase não usa, mas que lhe significa muito? Era aquele. Nas poucas vezes que foi usado, o processo de montagem seguia quase que um ritual. Colocar trilho a trilho, placa a placa, montar a estação com seus banquinhos, engatar cada vagão... E na hora de colocar para funcionar: a mágica. Não pelo fato de observar aquele brinquedo, fazendo voltas. Na verdade esse movimento era até cansativo e besta!


O gostoso mesmo era viajar junto com aquele trem. Imaginar quantas vidas passavam por aquele terminal, o que acontecia nos vagões, a infinidade de histórias que eram possibilitadas. Tinha certeza que uma menina tinha esquecido um ursinho de pelúcia, uma menina que seguiu toda a viagem chorando, desapegada forçadamente de seu amigo. E seu amigo estava lá na estação, meio que sem saber o que fazer, sem entender o que tinha acontecido.


Queria muito poder ajudar a menina e o seu amigo, mas era muito, muito difícil parar uma viagem de trem. Tem coisas que não basta querer, há coisas que nos são impossibilitadas. Da mesma forma aconteceu com o passar do tempo. Aquele brinquedo já não lhe tinha serventia e precisava sofrer uma mudança. Doação, lixo... opções. Muito difícil esse momento de se decidir uma separação. Mudar por mudar, por que não uma mudança suave? O fundo do guarda-roupa!

Um lugar secreto para a descoberta de novas gerações. Uma forma de desapego, sim! Estaria fora de seu alcance, até o dia que numa arrumação, encontraria aquele brinquedo e todas as vidas que lhe envolvem voltariam. Um desapego, mas não um desapego total. E essa era a sua diferença, se comparado com aquela menina do vagão.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Zélia Duncan – Um novo sabor



O ano de 2009 teve grandes surpresas. Como sempre algumas boas, outras nem tanto... No cenário musical, pode-se dizer que SIM, muita coisa boa surgiu, ou ressurgiu.

E assim, no meio de uma verdadeira safra de ótima qualidade, onde você acaba meio que se desesperando com tanta coisa legal para curtir, para degustar, um sabor aparece para lhe intrigar. Sorrateiramente, vai tomando suas “papilas auditivas” e num efeito avassalador, cumpre sua função de droga alternativa: vicia.

Bem, foi esse efeito que o Pelo Sabor do Gesto (2009) da Zélia Duncan teve comigo. Um álbum delicado, suave, leve, positivo, que faz a alma se elevar. E esta sensação tão boa nos tempos caóticos da atualidade não deve ser ignorada. Bem pelo contrário! E foi isso que aconteceu: agarrei-me à doçura da Zélia e sempre, mas sempre mesmo, recorro às suas belas crônicas-musicadas-poéticas nos momentos de aperto. Alivia! Poder presenciar a turnê de tal álbum, experiência singular! O álbum de 2009, A turnê de 2009/10.

Assim, chega ao mercado em 2010 a versão Premium, acompanhada de um DVD bônus. E o delicioso sabor da Zélia se renova, ganha aquele tempero a mais. Tudo bem, a impressão é que foi aquela colherzinha a mais de sal, aquele dente de alho que faltava e rapidamente é acrescentado a receita. Mas faz uma bela e surpreendente diferença.

E foi isso mesmo: um registro visivelmente improvisado, sem mesmo a produção digna de um documentário; mas apenas um típico “como se faz”. Saboroso! Muito legal poder acompanhar em 20 minutos a realização de um “banquete” para os ouvidos. (E a filhinha da Fernanda e do John? Um fofa!). Os clipes são simples, mas eficientes. Lógico que trazem a impressão de algo que falta, os arranjos – já tão bem incorporados às melodias. Mas o essencial está lá: a música e a voz da Zélia. Os dois vídeos são dois presentes: Aberto, com um arranjo diferente e sua câmera-agonia (admito que não curti muito esse vídeo) e a grande pérola FELICIDADE. Apenas recitado. Para que mais? Por que é que estou tão feliz?

Como toda boa degustação, o prazer de ingerir devagar faz que a música se incorpore a você. Dessa forma, o Pelo Sabor do Gesto – CD, DVD, Show e tantas coisas boas que a Zélia queria fazer desse trabalho – é um verdadeiro prato cheio para alma, coração e ouvidos, devendo ser consumido sem uma gota de moderação.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

CONTO: Saudade...

Palavra particular. Nossa. Assim como aquela saudade que aperta no peito. Uma saudade de não sei o quê. Uma saudade doentia. Quase que necessária para viver. Para se fazer importante. Todos os dias saía de casa e ia para um parque, no finalzinho da tarde, pra junto ao verde, pensar... Engraçado como um simples fato como esse poderia fazer a diferença. Seu modo de liberar tudo o que lhe vinha em mente, em especial a saudade. Saudade do que viveu, saudades das coisas boas que viverá, saudade das coisas ruins já vividas...não! Essas não! Dessas, distância! Não era necessário algo em específico, um amor, um grande acontecimento, uma importante conquista, nada. Bastava apenas sentir. E sentia. Gostava quando essa saudade estava condicionada a pequenas coisas do dia a dia, aquelas que normalmente passariam despercebidas, e passam por quase todos. Olhava as crianças em volta, brincando inocentemente e sentia saudades do tempo em que estava ali, naquele mesmo papel. Não exatamente daquele jeito, mas curtindo a infância. Recordava cada detalhe das brincadeiras com os primos e primas, da família numerosa, das conversas animadas dos domingos à tarde... Tardes essas quase que sagradas, meio que ritualísticas. Tardes de sons, cheiros e sabores agradáveis. E o melhor: não tinha nada de extraordinário. O sabor era de um manjar com doce de ameixa, a coisa mais simples e talvez por isso mesmo a mais intrigante de saborosa. Hoje, o questionamento que fica é: por que coisas simples e que funcionam tão bem não podem conviver pacificamente com as mudanças? A resposta, se existir, reside aí mesmo: na mudança. E tinha perfeita consciência daquilo. Uma vez nesse processo cíclico, tais coisas se perdem no meio do caminho... talvez seja a famosa pedra do Drummond. O que se sabe é que naquele domingo, tudo estava mais diferente do que já vivera. Não estava ruim, de fato. Porém as cores, os cheiros e os sabores já não eram mais os mesmos. No meio daquela divagação, uma surpresa. Ao lado uma barraquinha de comidas típicas no parque vendia acarajés, tapiocas e um manjar. Impossível no meio de todos aqueles pensamentos não querer retornar ao que era antes. Assim, catou o valor necessário para o seu ingresso a uma viagem de volta no tempo e comprou seu doce. Muita expectativa para comê-lo. Ao fazer o que tanto ansiava, a decepção: doce demais. Não sabe se foi o fato do excesso na expectativa ou na mudança que aquele doce representava. A verdade é que após três provas, acabou se tornando algo intragável de tão enjoativo. Certas coisas são feitas para serem aguardadas, pensou. Procurou o lixeiro mais próximo e ali jogou seu pedaço de tentativa frustrada de recordação. E foi embora, seguindo com novos pensamentos sobre as obrigações que a vida lhe impora. No caminho, uma descoberta: sabia o porquê da tentativa de reviver um momento saboreando um doce de sua infância não deu certo. E nada tinha a ver com momento, idéias, ausências. O motivo era o mais simples de todos: muito açúcar.

(Dedicado a minha avó)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Maria Gadú - "Viver um ano em segundos"


Maria Gadú com certeza foi a maior revelação da cena musical brasileira de 2009. Isso não sou eu quem confirma, mas sim uma gama enorme de críticos da área. Uma garota novinha, tímida, com um sorriso lindo, um abraço sincero e aconchegante. Mais do que isso, muito mais: dona de uma poderosa voz e de uma música tocante. Seu CD de estréia guardou boas surpresas para todo mundo. Muitos amaram, muitos odiaram ou acharam comercial; mas o certo é que este é um disco de impacto inicial. Talvez um pouco massacrado pelo excesso de músicas difundidas em novelas e minisséries (um total de quatro!). Porém, Gadú imprime seu jeitinho cativante no disco e até quem não curtiu muito, acabou se rendendo aos seus encantos, que colore e faz bem!


O ÁLBUM PASSO A PASSO

De cara, a suave “Bela Flor” mostra o paradoxo adotado entre a imagem metamórfica da Gadú, seus moicanos e suas baladinhas suaves. Se ao ver a foto da Maria, você espera um som pesado, pode mudar de idéia... “Altar Particular”, uma das mais belas do álbum, ganha arranjo sofisticado para uma letra forte. “Dona Cila” é simplesmente emocionante; assim como foi para Gadú, impossível não escutar essa música e lembrar-se de alguém querido que já se foi. “Escudos” já traz um pouco do ritmo ao disco, colada ao hit “Shimbalaiê”, que para mim é uma das mais fraquinhas, porém a mais conhecida do grande público e que tem umas frases lindas (Ser capitã desse mundo / Poder rodar sem fronteiras / Viver um ano em segundos / Não achar sonhos besteira). “Ne Me Quitte Pas” lógico que não tem a força visceral da versão definitiva da Maysa (Almodóvar que o diga!), mas ainda assim é uma bela e contagiante versão; além de fina, claro! “Tudo Diferente” é outra da série música fofa e redonda, ou música para comer, como definiria o Moska. Essa sim, acredito que teria força maior para música de divulgação. “Laranja” é a outra música que contagia pelo balanço, mesmo com letra fraca. “Lounge” é a típica música cabeça para se ouvir numa fossa: ótima! Suave e inteligente. Já “Linda Rosa”, prefiro não comentar, pois acho a mais insossa do álbum. “Encontro” tem uma vibe meio Pernambuco, um toque na introdução que lembra Lenine e uma letra linda de morrer. “A História de Lilly Braun” já virou uma versa definitiva para releitura do Chico Buarque, uma das maiores surpresas do CD. E para finalizar, a divertida “Baba” da Kelly Key aparece para a paixão e ódio das pessoas. Só a Gadú para conseguir tal resultado.


GADÚ EM RECIFE

Gadú já aportou no Recife duas vezes: a primeira para fazer a abertura do show do Moska. Um momento mágico, onde parecia haver no teatro apenas ela, seu banquinho e seu violão. A platéia toda vidrada, acompanhando e cantando suas composições. A segunda vez que Gadú veio a Recife foi recentemente para a prévia do Guaiamum Treloso (29/01/10), como convidada para uma participação no show do Lula Queiroga. E qual a surpresa que, mesmo para cantar apenas três músicas, ela era uma das mais aguardadas da noite, juntamente com a Teresa Cristina que também fez uma linda participação especial e da atração principal, os Titãs. Um show surpreso e delicioso na beira da praia, em Maracaípe. Fora as loucas idas ao aeroporto. Próxima parada: Cabedelo - Paraíba, dia 24/04/10. E depois, dia 05/06/10 - Gadú e Vercillo na prévia dos Dias dos namorado em pleno Chevrollet Hall! Louco para ver a voz da maria se espalhando naquele espaço imenso!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Validuaté - A alegria sempre traz junto uma revolução!

Uma das minhas grandes paixões é, sem sombra de dúvidas, a música. O ano de 2009 foi bastante rico nesse aspecto e nos agraciou com álbuns singulares, como o suave Pelo Sabor do Gesto da Zélia Duncan (a quem vou dedicar um novo post!); os criativos Vagarosa da Céu e Hein? da Ana Cañas; o exato Peixes, Pássaros, Pessoas da Mariana Aydar; o agradável Pra Se Ter Alegria da Roberta Sá; o incansável Iê, Iê, Iê do Arnaldo Antunes; o Beijo Bandido do Ney Matogrosso; os belos Tua e Encanteria da Maria Bethânia, o Bons Ventos Sempre Chegam da Luiza Possi; e o álbum de estréia da Maria Gadú.

Infelizmente, a criação deste meu blog foi um tanto tardia e estou com os meus dedos coçando para falar as minhas impressões sobre cada um deles. Acredito que isso não cabe tão bem no exato momento, mas que pode acontecer através de descobertas e acontecimentos futuros...

Bem, mesmo assim, gostaria de fazer um destaque dentre as tantas audições que realizei no ano passado. No show do Moska que teve como abertura a Maria Gadú, no Teatro da UFPE, aqui em Recife, tive a oportunidade de conhecer uma galera que só conhecia virtualmente. Os membros da comunidade Maria Gadú – Fãs de Permambuco. Cito este fato, porque foi nesse encontro em que firmamos um contato cada vez maior. E também foi nesse encontro para o show que conheci a Gabi, uma paulista/paraibana/pernambucana arretada, que depois me apresentou a uma banda que me chamou mito a atenção no final de 2009: a VALIDUATÉ.

De cara, gostei do som, despretensiosamente. Só o nome do CD já traz boas vibrações: Alegria Girar. Pois bem, girei! Letras inteligentes, melodias deliciosas, canto criativo, participações impecáveis (de Lirinha, Zéu Britto, Isaac Bardavid) e este se tornou um dos álbuns aos quais não consigo parar de escutar!Nas músicas, destaque para a poesia de O Hermeto e o Gullar; a contagiante Alegria Girar, que faz você quer estar em um show daqueles BEM lotados; o lirismo de Eu Preciso de Você, que como se não bastasse ser perfeita, ainda tem citações de Sentimental dos Los Hermanos; A Lenda o Peixe Francês, que é impossível de se ouvir e não imaginar um pequeno filme se passando na sua cabeça; e para mim, a melhor de todas, Eu Só Quero Acabar Com Você, divertidíssima, uma daquelas pragas bem boas que todo mundo já desejou jogar em alguém um dia!

Citei aqui, as canções que mais me chamaram a atenção no disco, mas todas as outras possuem uma qualidade maravilhosa e são extremamente importantes para completar o quadro do CD. Este é um álbum que vale apena vasculhar, ouvir, revirar, dançar, sentir. Quem não conhece, procure AGORA!


OBS: Um fato interessante – ao escutar pela primeira vez o som da banda, na minha pretensão pernambucana, perguntei-me “Quem são esses Pernambucanos que não conheço?”, acho que por causa da participação do Lirinha. Busquei algumas informações sobre o grupo e descobri que é do Piauí, terra a qual ligava apenas ao nome da “linda, absoluta” Stephany. Tudo bem, perdão!


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lourival Batista - Palhaço Que Ri e Chora


No início de 2009, estive completamente envolvido com a monografia para conclusão do curso de Especialização em Literatura Brasileira na FAFIRE.
O tema escolhido: lógico que a poesia popular. Um poeta em especial: o genial LOURO DO PAJEÚ.
Oportunidade ímpar mergulhar no mar de sua rica poesia durante meses. Desespero no começo, pois estava meio que desbravando a temática, mas aos poucos fui relaxando e alcancei o resultado esperado (assim acredito!).
Assim, escolhi postar aqui uma de suas poesias mais singulares para mim, seguido do comentário que construí no corpo da monografia. SALVE, LOURO!!!

Mote: palhaço que ri e chora.

Pinta o rosto, arruma palma
d'entre os néscios e sábios
o riso aflora-lhe os lábios
a dor tortura-lhe a alma.
Suporta com toda calma
Desgosto a qualquer hora;
ama sim, mas vai embora
vive num eterno drama:
Pensa, sonha, sofre e ama
Palhaço que ri e chora.

Tem horas de desespero
quando a vida desagrada
sentindo a alma picada
tem que ir ao picadeiro.
Se ama esquece ligeiro
porque ali não demora
chagas dentro, rosas fora
guarda espinho, mostra flor
misto de alegria e dor
palhaço que ri e chora.

Se quer alguém com desvelo
deixar é martírio enorme
se vai deitar-se não dorme
se dorme tem pesadelo.
Sentindo um bloco de gelo
lhe esfriando dentro e fora
desperta, medita e chora.
Sente a fortuna distante
julga-se um judeu errante
palhaço que ri e chora.

Palhaço, tem paciência!
Da planície ao pináculo
o mundo é um espetáculo
todos nós uma assistência.
Por falta de consciência
gargalhamos sem demora
choramos a qualquer hora
sem força, coragem e fé
porque todo homem, é,
palhaço que ri e chora.
(Lourival Batista, s/d)

"O poema é composto por quatro décimas que, como de costume, finalizam-se com a idéia do mote. A partir deste o mote pode-se perceber que será realizada uma reflexão sobre a figura mágica do palhaço, resumindo os sentimentos humanos mais importantes: a alegria e a tristeza, sentimentos presentes nas máscaras gregas, símbolo do teatro. O palhaço neste poema passa a ser uma metáfora do homem moderno, que vive neste dilema, neste paradoxo; é o símbolo da alegria, mas vulnerável as tragédias que a vida traz. E é esse dilema que ponteia as três primeiras décimas, que pode ser comprovado pelos contrastes existentes nos versos “o riso aflora-lhe os lábios / a dor tortura-lhe a alma”; na obrigação do palhaço em fazer as pessoas sorrirem, mesmo não estando com a alma alegre “sentindo a alma picada / tem que ir ao picadeiro”, “chagas dentro, rosas fora / guarda espinho, mostra flor / misto de alegria e dor”. A última décima serve como um conforto, uma súplica para esse palhaço, “Palhaço, tem paciência!”. A mesma paciência que todos os homens devem ter ao se depararem com uma situação difícil, pois “todo homem, é, / palhaço que ri e chora”.
Inegável o cunho filosófico que permeia todo o poema e outras composições do Louro. A figura do palhaço e sua condição de existência servem tanto para o homem do sertão que trabalha com o gado quanto para o homem da cidade, administrador de uma grande empresa. Neste ponto, ambos são idênticos. Todos riem e choram.
Fica impossível negar que a vivência na cidade grande e o acesso a outras culturas não tenha ajudado Lourival Batista a perceber tal fato."

Título do Trabalho: LOURIVAL BATISTA PATRIOTA - Um cantador entre o rural e o urbano
Autor: BRUNO GARCIA DE ARAÚJO
Orientadora: Profa Dra Luzilá Gonçalves Ferreira
Recife, 2009

Pequeno conto meu

A Ligação

Desespero. Olhando telefone e o relógio em perfeita sincronia, um após o outro, fazia meio que uma prece. Um pedido a qualquer santo, deus ou representante de qualquer crença. Rogava por forças... forças para continuar acreditando.

Uma briga, uma verdadeira futilidade capaz de fazer desmoronar toda uma confiança. O que é um olhar? Olhamos para as coisas, para as pessoas a cada minuto, ou melhor, a cada segundo. Mas não... tinha de ser um olhar diferente...

Percebia a distancia cada vez maior a cada vez que o ponteiro do relógio mudava de posição. Aquela era uma mudança que levava sua vida. Cada mudança no ponteiro agia como uma estacada, como um som estridente apontando o seu ERRO, ERRO, ERRO.

Por que fui olhar para aquela pessoa? Por que não tentei disfarçar? Como fazer para reverter a situação? Tem como reverter?

Passa pela sua cabeça o súbito desejo de ligar, pedir perdão, implorar se for preciso. Mas isso também é um risco muito grande. Só os fracos imploram por perdão. Principalmente se você não considera que fez algo que o mereça.

Não, não, não. Se quiser, que me procure! Oras, também tenho o meu brio, afinal de contas quantas vezes a mesma situação aconteceu do lado contrário e nada fiz... não por impotência, mas nada fiz, pois nada havia para ser feito.

Susto! O tão desejado acontecimento se inicia e com ele uma espécie de calvário. O telefone finalmente tocou. Algo tão almejado passa a trazer um mar de dúvidas. O que esperar da voz do outro lado da linha? Não sei se terei forças para agüentar um belo de um chute. Pior do que isso, não sei como reagir, como manter a postura diante do inevitável. No meio de toda esta confusão, o tempo passa... e o telefone continua a tocar. Sua música atordoa meus pensamentos, não consigo raciocinar.

A ligação é direcionada a caixa de mensagens. Não! Pior do que levar um fora é tê-lo registrado para posteridade. Agora só resta ouvir, apagar e acabar com todo o tormento. Mãos trêmulas ao discar o número da caixa postal. Respiração difícil. Tenho de aguardar. O tempo. A voz. Surge a voz que tanto esperava. Doce. Uma voz que amo. E foi como se o tempo parasse e deixasse de comandar as nossas ações.

(19/08/09 – 22h30 – Noite chuvosa!)

Poesia Popular na Ponta da Língua

Poeminha didático composto por mim para a camisa da culminância de um projeto da minha autoria, realizado em uma escola onde trabalhei.
Não curti muito o poema (o projeto foi massa!), mas vale a pena o registro fora da camisa, pois foi a primeira vez que fui chamado de "Professor e Poeta".

"Na boca do povo e no coração,
Este encanto sempre terá lugar.
E todos nós cantaremos com emoção:
Salve, salve a poesia popular."

Ao Longo das Janelas Mortas










O lindo poema do Mário Quintana que deu origem ao título este blog.








Ao Longo das Janelas Mortas


Ao longo das janelas mortas
Meu passo bate as calçadas.
Que estranho bate!...Será
Que a minha perna é de pau?
Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrivel!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso
[Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o quê,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...