quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Validuaté - A alegria sempre traz junto uma revolução!

Uma das minhas grandes paixões é, sem sombra de dúvidas, a música. O ano de 2009 foi bastante rico nesse aspecto e nos agraciou com álbuns singulares, como o suave Pelo Sabor do Gesto da Zélia Duncan (a quem vou dedicar um novo post!); os criativos Vagarosa da Céu e Hein? da Ana Cañas; o exato Peixes, Pássaros, Pessoas da Mariana Aydar; o agradável Pra Se Ter Alegria da Roberta Sá; o incansável Iê, Iê, Iê do Arnaldo Antunes; o Beijo Bandido do Ney Matogrosso; os belos Tua e Encanteria da Maria Bethânia, o Bons Ventos Sempre Chegam da Luiza Possi; e o álbum de estréia da Maria Gadú.

Infelizmente, a criação deste meu blog foi um tanto tardia e estou com os meus dedos coçando para falar as minhas impressões sobre cada um deles. Acredito que isso não cabe tão bem no exato momento, mas que pode acontecer através de descobertas e acontecimentos futuros...

Bem, mesmo assim, gostaria de fazer um destaque dentre as tantas audições que realizei no ano passado. No show do Moska que teve como abertura a Maria Gadú, no Teatro da UFPE, aqui em Recife, tive a oportunidade de conhecer uma galera que só conhecia virtualmente. Os membros da comunidade Maria Gadú – Fãs de Permambuco. Cito este fato, porque foi nesse encontro em que firmamos um contato cada vez maior. E também foi nesse encontro para o show que conheci a Gabi, uma paulista/paraibana/pernambucana arretada, que depois me apresentou a uma banda que me chamou mito a atenção no final de 2009: a VALIDUATÉ.

De cara, gostei do som, despretensiosamente. Só o nome do CD já traz boas vibrações: Alegria Girar. Pois bem, girei! Letras inteligentes, melodias deliciosas, canto criativo, participações impecáveis (de Lirinha, Zéu Britto, Isaac Bardavid) e este se tornou um dos álbuns aos quais não consigo parar de escutar!Nas músicas, destaque para a poesia de O Hermeto e o Gullar; a contagiante Alegria Girar, que faz você quer estar em um show daqueles BEM lotados; o lirismo de Eu Preciso de Você, que como se não bastasse ser perfeita, ainda tem citações de Sentimental dos Los Hermanos; A Lenda o Peixe Francês, que é impossível de se ouvir e não imaginar um pequeno filme se passando na sua cabeça; e para mim, a melhor de todas, Eu Só Quero Acabar Com Você, divertidíssima, uma daquelas pragas bem boas que todo mundo já desejou jogar em alguém um dia!

Citei aqui, as canções que mais me chamaram a atenção no disco, mas todas as outras possuem uma qualidade maravilhosa e são extremamente importantes para completar o quadro do CD. Este é um álbum que vale apena vasculhar, ouvir, revirar, dançar, sentir. Quem não conhece, procure AGORA!


OBS: Um fato interessante – ao escutar pela primeira vez o som da banda, na minha pretensão pernambucana, perguntei-me “Quem são esses Pernambucanos que não conheço?”, acho que por causa da participação do Lirinha. Busquei algumas informações sobre o grupo e descobri que é do Piauí, terra a qual ligava apenas ao nome da “linda, absoluta” Stephany. Tudo bem, perdão!


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lourival Batista - Palhaço Que Ri e Chora


No início de 2009, estive completamente envolvido com a monografia para conclusão do curso de Especialização em Literatura Brasileira na FAFIRE.
O tema escolhido: lógico que a poesia popular. Um poeta em especial: o genial LOURO DO PAJEÚ.
Oportunidade ímpar mergulhar no mar de sua rica poesia durante meses. Desespero no começo, pois estava meio que desbravando a temática, mas aos poucos fui relaxando e alcancei o resultado esperado (assim acredito!).
Assim, escolhi postar aqui uma de suas poesias mais singulares para mim, seguido do comentário que construí no corpo da monografia. SALVE, LOURO!!!

Mote: palhaço que ri e chora.

Pinta o rosto, arruma palma
d'entre os néscios e sábios
o riso aflora-lhe os lábios
a dor tortura-lhe a alma.
Suporta com toda calma
Desgosto a qualquer hora;
ama sim, mas vai embora
vive num eterno drama:
Pensa, sonha, sofre e ama
Palhaço que ri e chora.

Tem horas de desespero
quando a vida desagrada
sentindo a alma picada
tem que ir ao picadeiro.
Se ama esquece ligeiro
porque ali não demora
chagas dentro, rosas fora
guarda espinho, mostra flor
misto de alegria e dor
palhaço que ri e chora.

Se quer alguém com desvelo
deixar é martírio enorme
se vai deitar-se não dorme
se dorme tem pesadelo.
Sentindo um bloco de gelo
lhe esfriando dentro e fora
desperta, medita e chora.
Sente a fortuna distante
julga-se um judeu errante
palhaço que ri e chora.

Palhaço, tem paciência!
Da planície ao pináculo
o mundo é um espetáculo
todos nós uma assistência.
Por falta de consciência
gargalhamos sem demora
choramos a qualquer hora
sem força, coragem e fé
porque todo homem, é,
palhaço que ri e chora.
(Lourival Batista, s/d)

"O poema é composto por quatro décimas que, como de costume, finalizam-se com a idéia do mote. A partir deste o mote pode-se perceber que será realizada uma reflexão sobre a figura mágica do palhaço, resumindo os sentimentos humanos mais importantes: a alegria e a tristeza, sentimentos presentes nas máscaras gregas, símbolo do teatro. O palhaço neste poema passa a ser uma metáfora do homem moderno, que vive neste dilema, neste paradoxo; é o símbolo da alegria, mas vulnerável as tragédias que a vida traz. E é esse dilema que ponteia as três primeiras décimas, que pode ser comprovado pelos contrastes existentes nos versos “o riso aflora-lhe os lábios / a dor tortura-lhe a alma”; na obrigação do palhaço em fazer as pessoas sorrirem, mesmo não estando com a alma alegre “sentindo a alma picada / tem que ir ao picadeiro”, “chagas dentro, rosas fora / guarda espinho, mostra flor / misto de alegria e dor”. A última décima serve como um conforto, uma súplica para esse palhaço, “Palhaço, tem paciência!”. A mesma paciência que todos os homens devem ter ao se depararem com uma situação difícil, pois “todo homem, é, / palhaço que ri e chora”.
Inegável o cunho filosófico que permeia todo o poema e outras composições do Louro. A figura do palhaço e sua condição de existência servem tanto para o homem do sertão que trabalha com o gado quanto para o homem da cidade, administrador de uma grande empresa. Neste ponto, ambos são idênticos. Todos riem e choram.
Fica impossível negar que a vivência na cidade grande e o acesso a outras culturas não tenha ajudado Lourival Batista a perceber tal fato."

Título do Trabalho: LOURIVAL BATISTA PATRIOTA - Um cantador entre o rural e o urbano
Autor: BRUNO GARCIA DE ARAÚJO
Orientadora: Profa Dra Luzilá Gonçalves Ferreira
Recife, 2009

Pequeno conto meu

A Ligação

Desespero. Olhando telefone e o relógio em perfeita sincronia, um após o outro, fazia meio que uma prece. Um pedido a qualquer santo, deus ou representante de qualquer crença. Rogava por forças... forças para continuar acreditando.

Uma briga, uma verdadeira futilidade capaz de fazer desmoronar toda uma confiança. O que é um olhar? Olhamos para as coisas, para as pessoas a cada minuto, ou melhor, a cada segundo. Mas não... tinha de ser um olhar diferente...

Percebia a distancia cada vez maior a cada vez que o ponteiro do relógio mudava de posição. Aquela era uma mudança que levava sua vida. Cada mudança no ponteiro agia como uma estacada, como um som estridente apontando o seu ERRO, ERRO, ERRO.

Por que fui olhar para aquela pessoa? Por que não tentei disfarçar? Como fazer para reverter a situação? Tem como reverter?

Passa pela sua cabeça o súbito desejo de ligar, pedir perdão, implorar se for preciso. Mas isso também é um risco muito grande. Só os fracos imploram por perdão. Principalmente se você não considera que fez algo que o mereça.

Não, não, não. Se quiser, que me procure! Oras, também tenho o meu brio, afinal de contas quantas vezes a mesma situação aconteceu do lado contrário e nada fiz... não por impotência, mas nada fiz, pois nada havia para ser feito.

Susto! O tão desejado acontecimento se inicia e com ele uma espécie de calvário. O telefone finalmente tocou. Algo tão almejado passa a trazer um mar de dúvidas. O que esperar da voz do outro lado da linha? Não sei se terei forças para agüentar um belo de um chute. Pior do que isso, não sei como reagir, como manter a postura diante do inevitável. No meio de toda esta confusão, o tempo passa... e o telefone continua a tocar. Sua música atordoa meus pensamentos, não consigo raciocinar.

A ligação é direcionada a caixa de mensagens. Não! Pior do que levar um fora é tê-lo registrado para posteridade. Agora só resta ouvir, apagar e acabar com todo o tormento. Mãos trêmulas ao discar o número da caixa postal. Respiração difícil. Tenho de aguardar. O tempo. A voz. Surge a voz que tanto esperava. Doce. Uma voz que amo. E foi como se o tempo parasse e deixasse de comandar as nossas ações.

(19/08/09 – 22h30 – Noite chuvosa!)

Poesia Popular na Ponta da Língua

Poeminha didático composto por mim para a camisa da culminância de um projeto da minha autoria, realizado em uma escola onde trabalhei.
Não curti muito o poema (o projeto foi massa!), mas vale a pena o registro fora da camisa, pois foi a primeira vez que fui chamado de "Professor e Poeta".

"Na boca do povo e no coração,
Este encanto sempre terá lugar.
E todos nós cantaremos com emoção:
Salve, salve a poesia popular."

Ao Longo das Janelas Mortas










O lindo poema do Mário Quintana que deu origem ao título este blog.








Ao Longo das Janelas Mortas


Ao longo das janelas mortas
Meu passo bate as calçadas.
Que estranho bate!...Será
Que a minha perna é de pau?
Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrivel!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso
[Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o quê,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...